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segunda-feira, 16 de abril de 2012

Combater politicamente as ameaças aos estudantes e o conteúdo de crime de ódio contra mulheres, negr@s e LGBTs

Por Lucas Brito, estudante de Serviço Social em nome do coletivo Há Quem sambe Diferente!

Veja a Notícia no Blog do Coletivo Há Quem Sambe Diferente
As ameaças continuam.

Mesmo com a prisão de suspeitos, as ameaças contra estudantes da Universidade continuam. As ameaças são de crime de ódio contra homossexuais, mulheres e negr@s. As mensagens incluem estudantes de Ciências Sociais e militantes de partidos políticos, que seriam, também, alvos de um suposto plano de atentado.

Em uma das ameaças chegaram a dizer que seria “impossível que todas as mochilas ou lixeiras fossem revistadas”. No final dessa semana a situação foi agravada com a ameaça de que no dia 12, quando completaria 15 dias de um suposto atentado ocorrido em uma festa em Ceilândia e reivindicado pelo grupo do site silviokoerich, o atentado se repetiria na UnB com @s estudantes de Ciências Sociais. Entre o dia 12 e a madrugada do dia 13 a Polícia Federal teria identificado ameaças de atentado à bomba. A Reitoria anunciou um reforço no policiamento da universidade e na manhã da sexta-feira o clima foi de apreensão. Várias aulas foram suspensas, alguns departamentos cancelaram suas atividades, forte movimentação policial e muitas informações não confirmadas.

Vale lembrar que a Polícia Federal tem provas que indicam que Emerson e Marcelo planejavam um massacre a estudantes da Universidade de Brasília, chegando a desenhar um mapa para a ação. Os dois contavam com apoiadores – no Twitter, sua conta possuía mais de 1.800 seguidores –, além de uma conta bancária com R$ 500.000 para financiá-los. Tudo leva a crer que Emerson e Marcelo não estão sozinhos.


Ameaças e incitação ao ódio não são novidade na UnB.






Já em 2005, um dos suspeitos presos já incitava o ódio contra negros nas redes sociais. Então estudante de letras japonês da UnB o Marcelo Valle criticava o sistema de cotas dizendo que “lugar de negro não é na universidade”. Em 2009 ele foi processado e condenado por racismo, cumprindo a pena em liberdade.

No final do semestre passado um dos temas centrais em debates e conversas nos corredores era a ausência de segurança ao conjunto da comunidade universitária. Casos de estupros, roubos de carros, sequestros relâmpagos e os corriqueiros furtos e assaltos são parte da insegurança vivida nos meses de volta ás aulas. Mesmo antes das recentes ameaças o clima de insegurança já existia, o que se agrava profundamente agora. É importante também lembrar que em 2010 já tivemos um caso de ameaças de crimes de ódio a uma estudante que participou de uma marcha contra a homofobia. Na ocasião os suspeitos seria neo-nazistas e a UnB manteve o silêncio.

A ausência de seguranças suficientes, a falta de iluminação, reduzidas linhas de transporte e a inexistência de um transporte circular são elementos que agravam a situação de insegurança. Hoje os seguranças são todos patrimoniais e a Reitoria ainda prepara uma demissão em massa de trabalhadores terceirizados, que acabam que são responsáveis pela segurança da universidade.


Combater politicamente as ameaças de crime de ódio contra mulheres, negr@s e LGBTs!




Diante de mais essa atitude de incentivo ao ódio é fundamental que o movimento estudantil – centros acadêmicos, DCE, executivas de curso e demais entidades; sindicatos da cidade e da universidade, grupos organizados de combate ao machismo, racismo e homofobia, demais organizações da comunidade universitária e do DF tem a tarefa de declarar o seu repúdio às ameaças.

Os milhares de casos de violência e morte de mulheres, a impunidade que os cerca, a insuficiência da lei, a desigualdade imposta à mulher em relação ao homem no trabalho e no acesso a direitos, tudo isso é fruto da sociedade em que vivemos. Assim como os inúmeros casos, divulgados/contabilizados ou não de agressões e discriminação contra LGBTs e o racismo velado, por vezes institucionalizado, que submete metade da população a uma vida de discriminação e dificuldade de acesso a direitos e submetidos, muitas vezes, a violência policial ou pelo tráfico nas favelas. As opressões são parte do dia a dia da sociedade brasileira.

A única possibilidade de impormos uma derrota às opressões é por meio da luta organizada e sistemática. Não podemos deixar que casos como os que estão ocorrendo na UnB não sejam respondidos politicamente pelo movimento organizado e por todo o conjunto de estudantes.


Nos corredores da universidade o que deve ser marcante não podem ser o medo e a apreensão. Não podemos deixar que isso altere e reprima a convivência dos centros acadêmicos. Os grupos de combate às opressões não podem se sentir acuados em convocar suas reuniões e planejar suas atividades. O movimento não pode parar. Em momentos como esse nossa fortaleza reside na unidade do movimento e na organização do mesmo. O que deve marcar os corredores da UnB é a declaração organizada de que não iremos nos abalar. Com muita serenidade iremos exigir medidas emergenciais de segurança, além de lutar por um plano de segurança efetivo e permanente. Vamos mostrar a UnB é feita de pessoas que repudiam as ameaças assim como o conteúdo de ódio. Só com muita luta poderemos mostrar que ameaçar mulheres, LGBTs e negr@s da UnB é ameaçar o conjunto da população brasileira e que esses setores que fazem do seu dia a dia um exemplo de superação de inúmeras formas de violência não se dobrarão.

Carta a(o)s LGBTTTs da UnB

As ameaças que todos nós estamos sofrendo não é novidade para ninguém. Há anos sabemos que existem neonazistas em Brasília, o próprio Correio Brasiliense afirmou que eles estão presentes em nossa cidade há 30 anos. Todavia, as coisas tomaram outras proporções, nossa Universidade está mantendo suas atividades sob medo e desconfiança mesmo a pós a prisão do ex estudante Marcelo.

Várias atitudes têm sido tomadas, muitas delas controversas. Sabemos que na hora do caos as autoridades legitimam o uso da violência sem escrúpulos para manter a chamada “ordem”. A pergunta que nos fica, e agora? Quem irá nos proteger e tomará as atitudes cabíveis? O Chapolin Colorado que não vai ser, ou a reitoria, e muito menos a polícia homofóbica, machista e racista. É chegada a hora de relembrarmos Stonewall e o movimento LGBTTT combativo, que não se calou diante do medo. Nós fazemos a nossa própria história, vamos virar o jogo contra a homofobia, vamos mostrar que @s sexo diversos da UNB, não vão se calar e nem se amedrontar diante dessas ameaças. Convoco a tod@s para participarem de uma reunião extraordinária no mezanino norte nesta quarta feira, 15/04/2012 as 12 h.

Não tomar nenhuma atitude nesse momento é favorecer o mais forte, e achar que nada vai acontecer, que são apenas ameaças que nos cercam, são atitudes irresponsáveis e de pouca compreensão da conjuntura que vivemos. As falas de Silvio Koerich (o blog que continua ameaçando um atentado contra os LGBTTT) alimentam o ódio, dialogam e reafirmam a expressão dominante do pensamento homofóbico de nosso país. 

Vivemos num país em que a homofobia não é crime, pelo ao contrário, é socialmente aceita e legitimada pelas instituições de poder. A homofobia nesse país é organizada, a “marcha pela família” contra a PLC 122 conseguiu movimentar um contingente muito maior do que a “marcha contra a homofobia”. Não é momento de ficar de mãos cruzadas, se conseguimos fazer a maior parada gay do mundo, se conseguimos aglutinar vários sexo diversos em shows, happy hours, festas e casas noturnas, também podemos levar nosso seguimento á luta para transformar esta sociedade que está na barbárie. Se Harvey Milk nos disse para darmos esperanças, está na hora de darmos ações combativas!
 
PS: Como a reunião é no horário do almoço sugiro que não se atrasem e que tragam alimentos para um lanche coletivo.

por Hyago Brayhan Pires Batista