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sábado, 23 de julho de 2011

3 operários morrem em obra de expansão do Hospital Universitário de Brasília (HUB)
nesse ano já foram 11 operários da construção civil mortos em canteiros de obra no DF.

Na manhã da quinta-feira, dia 21 de julho, mais três operários da construção civil morreram em Brasília, vítimas do descaso e da ganância das empreiteiras. Os três operários foram soterrados numa vala, por uma montanha de terras e escombros com peso de 30 toneladas. O acidente ocorreu um dia após um fiscal da UnB ter interditado as obras de construção do Instituto da Criança e do Adolescente, em função do risco de desabamento no local em que ocorreu o acidente. Ainda na quarta-feira, dois operários foram demitidos por se recusarem a trabalhar na vala.

A vala, em que morreram os 3 operários, não obedecia às normas de segurança. Apesar do profundidade do buraco e do grau íngreme dos barrancos, nenhum procedimento de escoramento foi utilizado, deixando a encosta instável. Além do mais, materiais da obra foram acumulados as margens da vala, tornando ainda mais vulnerável a terra dos barrancos. As medidas de segurança para esse tipo de procedimento foram ignoradas porque o mestre-de-obras, Raimundo João da Silva, queria economizar os gastos referentes ao aluguel de uma retro-escavadeira, que atuava na construção da vala.

Mortes: triste realidade dos operários da construção civil na capital do país.

A irresponsabilidade do metre-de-obras, que covardemente fugiu depois do acidente, e a ganância da empreiteira Anhaguera, custaram a vida de Nelson Holanda da Silva, Lourival Leite e Raimundo José. Mas infelizmente, esse caso não é um fato isolado, durante o primeiro semestre de 2011 em todos os meses morreu um operário em algum canteiro de obras da cidade. Nesse ano, inclusive, o número de mortos em acidentes já ultrapassou a quantidade de vítimas de todo o ano passado.

Os operários que trabalhavam na obra de expansão do HUB, passaram toda a semana tendo atritos com o metre-de-obras, que obrigava os trabalhadores a atuarem na vala do acidente, sem sequer fornecer equipamentos de segurança aos operários, como luvas e protetores auditivos. O mestre-de-obras, além do assédio moral e das ameças de demissão, prometia o pagamento dobrado da hora-extra para os operários que trabalhassem na vala. Em função da péssima remuneração da categoria, alguns operários arriscavam suas vidas para ter um pouco de dinheiro a mais no fim do mês.

Chega de mortes! Prisão e expropriação dos bens das empresas e dos responsáveis pelas mortes!

Os operários continuam sofrendo acidentes e morrendo nos canteiros de obra, porque a impunidade às empresas e aos responsáveis pelos acidentes impera no país. No entanto, seria pouco provável que a situação fosse diferente num país em que as empreiteiras são uma das principais financiadoras das campanhas eleitorais dos governantes, dos deputados e dos senadores. Basta ver o caso da própria presidenta Dilma, que teve sua campanha bancada principalmente por grandes empreiteiras brasileiras. Enquanto as empreiteiras continuarem a gozar da cumplicidade dos governos estaduais e federal, dificilmente elas serão punidas pelas mortes e acidentes, que acontecem diariamente nos canteiros de obra do país.

Infelizmente outro fator também contribui para que as mortes continuem no cotidiano das obras do DF, a política de desmobilização do sindicato dos trabalhadores nas indústrias da construção e do mobiliário de Brasília. Apesar da rotina de mortes e acidentes, a direção desse sindicato, ligado a NCST, não promove uma campanha ostensiva e ampla contra as empreiteiras e não chama a categoria para assembleias, atos ou mobilizações pela garantia de condições dignas e seguras de trabalho para os operários. Esse sindicato acaba facilitando, dessa maneira, a realidade de super-exploração e falta de segurança a que estão submetidos os operários da construção civil.

A reitoria da UnB comunicou publicamente a sua decisão de suspender imediatamente o contrato com a empresa Anhaguera e sua intenção de cancelar o contrato o mais rapidamente possível. Exigimos que a reitoria cumpra a sua palavra e proceda com o rompimento do contrato. Também exigimos que a justiça agilize o processo e puna rigidamente a empreiteira Anhaguera e os responsáveis pela obra. 


PSTU-DF

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Assassino de Gildo Rocha tem mais uma vez o julgamento adiado

Militante do PSTU foi assassinado por policiais em 2000. Já são 11 anos de impunidade. Novo julgamento ainda não tem data para acontecer


Ademar lourenço


• Segundo informa a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, o julgamento do policial que matou o gari Gildo Rocha em 2000 foi adiado pelo fato do réu alegar problemas de saúde. O julgamento seria nesta quinta-feira, dia 21, às 9 horas, e não tem nova data marcada.

Gildo Rocha foi barbaramente assassinado durante uma atividade sindical por dois policiais civis, um deles já falecido. O caso, de grande repercussão, chamou atenção na época pela arbitrariedade da ação, que inclusive contou com a prática de forjar provas falsas. Os policiais alegaram que Gildo estava armado e sob o efeito de drogas. Perícia comprovou que nenhuma das alegações era verdade.

Gildo era militante do PSTU e membro do Sindicato dos Servidores do Governo do Distrito Federal. Deixou mulher e dois filhos. Desconsolada, a viúva de Gildo, Gleicimar Souza, não acreditava em mais um adiamento do julgamento e na impunidade que já dura 11 anos. ”Não tenho nem palavras para descrever o que estou sentindo agora, é muito revoltante”, afirmou.

terça-feira, 19 de julho de 2011

A luta dos que não tem uma casa para morar

Rodrigo Dantas*

Desde a última sexta-feira, 18/07/2011, cerca de quatrocentas famílias de trabalhadores sem teto, e sem direitos, organizados pelo MTST (Movimento dos Trabalhadores sem Teto, movimento nacional filiado à Central Sindical e Popular – CSP Conlutas), ocupam pacificamente um terreno baldio à beira da Estrutural (BR-070), em trecho situado imediatamente após a expansão do setor O, na Ceilândia. As centenas de trabalhadores, mulheres, crianças, idosos, jovens e desempregados que hoje ocupam este terreno, que segundo o GDF pertenceria ao DNIT, antro histórico de corrupção no governo federal, lutam com todas as suas forças para ter reconhecido o direito de morar em sua própria casa.

O direito ao lar é um direito humano elementar, assegurado pelas determinações infra-constitucionais do Estado brasileiro, e um dos direitos humanos universais reconhecidos pela ONU. Para assegurar este direito a todos os brasileiros, nossa Constituição condiciona o direito à propriedade da terra ao exercício de sua função social – embora as relações sociais de produção, propriedade e poder que estruturam concretamente a sociedade capitalista façam letra morta deste dispositivo constitucional, que só entra em vigor quando o movimento social ocupa terras improdutivas e ociosas, e os governos, em resposta, desapropriam o terreno, geralmente pagando rios de dinheiro a seus pretensos proprietários. 

Para (sobre)viver na capital do Brasil, os trabalhadores sem teto, via de regra, têm de pagar trezentos reais de aluguel pelos barracos que habitam. Mas a maioria deles, quando estão empregados, recebe salários de quinhentos reais. É humanamente impossível viver nestas condições. Na verdade, os sem teto lutam por casa, mas precisam também comer. Precisam também se vestir. Precisam de saúde, educação, transporte público, serviços públicos, salário, emprego e a aposentadoria. Na verdade, precisam de tudo quanto se possa humanamente supor. E porque não tem direito a nenhum dos direitos humanos, os sem teto resolveram se organizar para lutar por seus direitos, a começar pelo mais elementar de todos eles: o direito à moradia. Porque carecem de todos os direitos humanos que possam ser cogitados, nada lhes restou senão associar-se para lutar, "bem unidos", pelas condições humanamente elementares de sua existência.

Vivemos numa cidade e num país em que a grilagem e a especulação imobiliária têm impedido, historicamente, o acesso da população de baixa renda à casa própria. Programas sociais, como o Minha Casa, Minha Vida, historicamente têm servido mais para alimentar os lucros das empreiteiras, nutrir suas relações de corrupção com governos cujas eleições são por elas pesadamente financiadas e encarecer ainda mais o preço da moradia popular, do que para propiciar moradia digna às mais de dez milhões de famílias que dela ainda carecem em nosso país.  

No Distrito Federal, a terra foi desde sempre objeto de grilagem predatória e intensa especulação imobiliária, protegida e promovida pelos sucessivos governos que aqui se instalaram desde os tempos da ditadura militar. O resultado é que, embora o DF tenha o maior estoque de terras ociosas localizadas em território urbano em todo o país, e de longe o maior orçamento per capita entre todas as unidades da federação, temos em nossa cidade o metro mais quadrado mais caro do Brasil, milhares de quilometros quadrados de terras ociosas à mercê da especulação, mais de 120 mil famílias sem acesso a casa própria, mais de 360 mil pessoas cadastradas esperando há muitos anos por seu lote e um punhado de grileiros e empresários da construção civil nadando em dinheiro e mamando como ninguém nas tetas dos cofres públicos e dos contratos super-faturados. Como se não bastasse, centenas de milhares de famílias que no passado tiveram de comprar seus lotes de grileiros para construir suas residências, ao invés de terem reconhecido pelo Estado seu direito a escritura definitiva de suas casas, estão sendo hoje intimadas pelo governo a pagar mais uma vez por seus lotes para terem direito a regularização definitiva da propriedade de suas casas.

Há na capital de nosso país um estoque mais do que suficiente de terras ociosas para que todos os moradores do DF tenham acesso a seu lote. Há na capital de nosso país recursos orçamentários suficientes para, em apenas quatro anos, construir moradias populares de qualidade, ao preço de 50 mil reais cada uma, para 150 mil famílias, utilizando para isso menos de 5% do orçamento anual do GDF. Mas um projeto como este não poderá se tornar realidade enquanto os parlamentares e o governo do DF tiverem sua eleição financiada por grileiros e grandes empresários para governar a serviço de seus interesses. Garantir a todos o acesso a casa própria não será possível enquanto velhos políticos profissionais e um punhado de “cooperativas” sob a proteção do governo continuarem a utilizar a necessidade das pessoas para construirem (ou reconstruirem) imensos esquemas de clientela, formarem grandes currais eleitorais em torno da distribuição de lotes e casas e enriquecerem às custas do dinheiro público e dos contratos super-faturados.

Os sem teto conhecem muito bem esta realidade; por isso, sabem que, sem lutarem, jamais terão direito a todos os direitos que hoje lhes são negados nesta cidade e neste país. Quem poderia, em sã consciência, negar-se a reconhecer a justiça de sua luta?
*Rodrigo Dantas é professor de Filosofia da UnB e militante do PSTU

Nota do MTST sobre a ocupação no DF

 http://mtst.org/index.php/inicio/134-nota-oficial-sobre-o-df.html


 
Reocupamos a área às margens da BR-070, depois de Ceilândia, próximo a pista no sentido Plano Piloto. Fomos despejados na tarde de segunda-feira (18/7) durante uma operação truculenta entre a Secretaria de Estado de Ordem Pública Social (Seops) e da Agência de Fiscalização do Distrito Federal (Agefis).

Para pressionar o governo, fizemos um acampamento no dia 18/7/11 em frente ao Palácio dos Buritis com 150 famílias e uma comissão do MTST foi recebido pelo governo. No entanto, para esfriar nossas lutas, o governo interrompeu momentaneamente as discussões e seguimos acampados em frente ao Palácio, aguardando uma solução e reocupando o local original como forma de mostrar a importância de nossa luta.

Só com luta, será possível acabar com os especuladores do DF!

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Após 11 anos, assassinato de Gildo Rocha terá julgamento


Policial que atirou irá a júri popular neste dia 21 de julho



ANA BEATRIZ SERPA, JORGE HENRIQUE E KARINE AFONSECA, DE BRASÍLIA (DF)
 

www.pstu.org.br
 
 
  O militante do PSTU assassinado, GIldo Rocha

• Após 11 anos, finalmente acontece o julgamento do assassinato de Gildo Rocha, militante do PSTU e dirigente do Sindser, sindicato dos servidores do Distrito Federal. Gildo foi morto na madrugada de 6 de outubro de 2000, durante atividade de greve contra a terceirização e por condições de trabalho.

Em 2000, o então governador Joaquim Roriz havia dado ordem de reprimir violentamente a greve dos trabalhadores da limpeza urbana (SLU), caso viesse a acontecer. Gildo Rocha, um dos líderes, saiu de casa de madrugada, no dia 6 de outubro, acompanhado de amigos, também do SLU, para uma atividade votada na assembléia: furar sacos de lixos para impedir a ação dos fura-greves. Dois policiais civis, armados e à paisana, abordaram o grupo, e na tentativa de fugir, 17 disparos foram efetivados contra o carro de Gildo. Dois tiros acertaram o porta-malas, oito ricochetearam e um atingiu Gildo nas costas.

Os policiais tentaram incriminar Gildo. Afirmaram que este estava em atividade suspeita e que teria disparado contra eles. Uma arma e drogas foram colocadas no carro, na tentativa de desqualificar a vítima. “Foi uma covardia muito grande isso. Demorou, mas dois meses depois, saiu o laudo mostrando que era tudo mentira”, lembra Gleicimar Souza, viúva de Gildo. O laudo do Instituto Médico Legal provou que Gildo não atirou, já que em sua mão não havia vestígios de pólvora. Um exame de sangue mostrou ainda que não havia consumido drogas.



Impunidade
O processo foi marcado pela lentidão. A ponto de um acusado já ter morrido, em acidente. O que mostra o papel da Justiça. “Para muitos, basta roubar uma galinha pra ser preso”, diz Gleicimar.

A companheira de Gildo perdeu a conta das idas ao Fórum, acompanhar o processo. “Eu ia lá tantas vezes e não entendia porquê da demora. Uma pessoa mata outra nessas condições, confessa... Ele tinha de ser julgado de imediato. Houve a morte, tinha a arma, o cara falou: ‘eu matei, eu fiz’”, lembra Gleicimar. “Tinha de ter um julgamento. Mas não foi o que aconteceu. Demorou dois anos para o Ministério Público fazer a pronúncia... Depois de uns cinco anos que o juiz mandou a júri popular”, protesta.

O primeiro julgamento só foi marcado dez anos após o crime, mas não foi realizado. Na ocasião, dezenas de policiais compareceram ao fórum, em uma tentativa de coação. O julgamento foi transferido de Ceilândia para Brasília, adiado e agora marcado para 21 de julho.

Após 11 anos, amigos e familiares não esqueceram o crime. “A ferida sempre vai ter. Não tem como mudar isso. Mas quando não tem justiça fica um buraco. A partir do momento em que tiver justiça, vai ser uma dor diferente. Vai ser um alívio, talvez”, imagina Gleicimar.

A decisão da Justiça pode amenizar a dor de sua mulher, seus filhos e companheiros. Gildo morreu na luta por um mundo melhor e mais justo. Continua presente nas lutas dos militantes do PSTU e dá força para combater as injustiças, a criminalização dos movimentos sociais e poderosos como Roriz.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

É proibido proibir!

Um manifesto em defesa da autonomia dos CA’s e da liberdade de organização do Movimento estudantil da UnB!

Essa semana vai ficar marcada para a história da UnB. Para aqueles que participaram da luta pela paridade nas eleições para reitor e da greve unificada dos três segmentos em 2005, da ocupação da reitoria na posse do Timothy, também em 2005, da ocupação da reitoria e da luta pela paridade nas eleições para reitor, em 2008, seguramente vão se lembrar dessa semana, como uma página sombria da história da UnB.

A semana começou com a revista VEJA desferindo um ataque ao movimento estudantil e sindical da UnB, com uma reportagem vergonhosamente mentirosa e apoiada nos setores mais reacionários e conservadores da universidade e do país. Em seguida o governo de Dilma recredencia a FINATEC, desconsiderando solenemente os processos judiciais em andamento contra a entidade e a reprovação das contas da FINATEC dos últimos dez anos. A reitoria da UnB, que prometeu em sua campanha eleitoral acabar com as fundações privadas, comemora a decisão e diz a “UnB precisa de uma fundação”. Para fechar a semana, a comunidade universitária se depara com a notícia veiculada no portal da UnB: “reitoria limita festas nos campi”, um mero eufemismo para dizer que a reitoria proibiu qualquer “festa” que não seja no centro comunitário, questão essa que pretende ser o centro desse texto.

A decisão da reitoria de proibir as “festas” e a forma como ela está encaminhando o cumprimento de seu Ato Institucional, apesar de parecer uma questão secundária e menor, diante dos dois fatos já citados nesse texto, é na verdade extremamente grave e perigoso para a liberdade de organização do movimento estudantil da universidade. E, não deixa de ser, também, mais um desdobramento do mesmo processo político que leva a VEJA e as grandes mídias a encaparem uma campanha de criminalização e desmoralização do movimento estudantil e sindical da UnB e que leva o governo Dilma a recredenciar a FINATEC.

As festas organizadas no minhocão pelos CA’s sempre foram parte importante da vida e da organização dessas entidades. Através dessas festas, muitos estudantes passam a conhecer melhor o CA do seu curso e, consequentemente, as atividades politicas, culturais e esportivas que acontecem na UnB. As festas sempre foram, e ainda são, uma porta importante para que os estudantes conheçam e participem do movimento estudantil, em todas as universidades do país. Essas festas, diga-se de passagem, cumprem um papel relevante para a condição de independência do CA, diante das reitorias, pois elas permitem que o movimento estudantil se autofinancie e não dependa do dinheiro de reitorias e departamentos. E, além do mais, as festas dos CA’s no minhocão podem ser espaços de desenvolvimento das expressões artísticas e culturais da UnB e da cidade, principalmente porque é um local em que bandas amadoras ou sem espaços nos circuitos de show da cidade podem apresentar seus projetos musicais para um público que aprecia e se interessa por novidades culturais.

Obviamente, não é preciso dizer que essas festas são um momento de lazer e de descontração para os estudantes da UnB e para a juventude de Brasília, principalmente para um setor da juventude que encontra nessas festas um dos poucos espaços acessíveis, financeiramente, para desfrutar de seu direito ao lazer e ao descanso, tendo em vista que o acesso às festas é gratuito. Infelizmente, é cada vez mais difícil desfrutar do direito ao lazer numa sociedade em que a insuficiência e a má qualidade do transporte público, o processo crescente de apropriação privada dos espaços de lazer, o preço caro e abusivo das festas e shows (que as produtoras de evento impõem ao público) e a jornada longa e estafante de trabalho, ao qual a maioria da população está submetida, torna o acesso a esse direito quase impossível para uma ampla camada populacional. Inclusive, um dos elementos que explicam um crescimento significativo do número de participantes das festas no minhocão é o aprofundamento do processo de elitização do acesso à cultura e ao lazer no DF, além, é claro, da utilização das redes sociais para a divulgação.

Apesar da importância da organização das festas para o movimento estudantil, especialmente das festas nas sedes do CAs’ no minhocão e nos prédios da UnB, como forma de financiar a atividade dos CA’s e aproximar os estudantes das entidades estudantis, têm ganhado força na UnB, nos últimos anos, um setor, do ativismo dessas entidades, que transformou os CA’s em verdadeiras produtoras de grandes festas. Esse setor do ativismo, encabeçado pela gestão do DCE, se associa, na maioria das vezes, a produtoras de evento e empresas privadas, principalmente, de produção de bebidas, para promover, no centro comunitário da UnB, shows para um público grande a preços elevados. Esse setor se contenta, para cumprir tal papel, a receber uma parte, pequena para as produtoras privadas, mas significativas para os CA’s, do lucro dessas festas.

Essa prática de organização de mega-festas é danoso para o movimento estudantil por dois motivos. Primeiro, porque o tempo de dedicação do ativismo dos CA’s para a construção desses eventos termina por transformar essa atividade como sendo a única desenvolvida pelas entidades, dificultando muito a possibilidade do CA ser um espaço para a construção de um movimento estudantil de luta pelas reivindicações dos estudantes dos cursos e pela defesa de uma educação pública de qualidade. Em segundo lugar, porque os ativistas e as entidades que representam, acabam cumprindo um papel, detestável e avesso à tradição do movimento estudantil de luta pela educação pública, de fortalecer uma lógica elitista de acesso à cultura e ao lazer, além de servirem como mão-de-obra barata para a divulgação de marcas e produtos privados, como a Mamute (bebida energética), que tem atuado com frequência na UnB. Não é estranho, entretanto, que essa prática tenha ganhado força na UnB e também em outras universidades do país, tendo em vista que a própria UNE vem privilegiando a despolitização de seus congressos e os transformando em verdadeiras colônias de férias, em que a direção da entidade, cada vez mais, procura grandes empresas privadas pra financiar os seus congressos.



Por que proibir as festas dos CA’s no minhocão e nos prédios da UnB?



A decisão da reitoria de proibir as festas é motivada pelos seguintes objetivos:

• A reitoria da UnB enfrentou uma série de protestos nesse semestre, em função dos problemas de estrutura dos campi e das condições precárias de vários departamentos e de cursos de graduação. A grande parte dessas mobilizações tiveram como vanguarda os estudantes, que se organizaram, sobretudo, através do CA’s. Como a reitoria de Zé Geraldo não tem conseguido dar soluções definitivas para esses problemas, a probabilidade que novas lutas e protestos voltem a tomar conta da UnB é grande e, por isso, é importante sufocar os centro acadêmicos como espaços de aglutinação e articulação dos estudantes, dificultando a organização e o desenvolvimento das lutas estudantis. Proibir as festas colabora para sufocar financeiramente os CA’s e dificultar o processo de integração dos estudantes dos cursos.

• Como parte de uma movimentação política da reitoria cada vez mais a direita, para se aproximar dos setores reacionários e conservadores que apoiavam e se beneficiavam da reitoria de Timothy, derrubada pela ocupação da reitoria em 2008, o Reitor Zé Geraldo faz coro ao discurso desse setor que sempre tentou criminalizar o movimento estudantil e o movimento sindical da UnB. Para esse setor conservador da universidade, é inadmissível que qualquer entidade ou coletivo organizado, que não seja de professores ou chefes de alguma instância de poder na estrutura administrativa da UnB, tenha o poder de usufruir ou definir sobre a utilização dos espaços públicos da universidade, uma posição antidemocrática e privatista. Não à toa, esse setor conservador sustentou uma fundação privada, a FINATEC, que parasitou (e infelizmente vai voltar a parasitar) a UnB, desviando mais de cem milhões de reais de dinheiro público.



No entanto, a reitoria alega que essa medida repressiva é motivada pelos danos provocados ao patrimônio público em virtudes das festas que aconteceram nas últimas semanas. A reitoria alega que não têm condições de manter a segurança do patrimônio ou dos participantes dessas festas, afirmando que a quantidade de pessoas é muito alta, em torno de 2000 a 3000 pessoas. O interessante dessa alegação é que a reitoria tem que manter no mesmo prédio em que ocorre a maioria das festas, o minhocão, durante todo o dia, a segurança patrimonial e dos transeuntes numa quantidade de pessoas que nos horários de pico, por baixo, ultrapassam o número de 5000 pessoas. Ora pois, ou a reitoria não tem interesse em zelar pelo patrimônio da UnB durante o acontecimento das festas, ou a reitoria não tem condições de garantir, em nenhum momento, a segurança, primordialmente, patrimonial da universidade. Outro problema dessa argumentação é que, o mesmo Zé Geraldo que agora se apresenta preocupado com o patrimônio, não apresenta o mesmo empenho e nem a mesma firmeza de iniciativa para solucionar os problemas de estrutura do minhocão e dos departamentos causados pelo alagamento da UnB e pelo atraso na conclusão das obras dos novos campi. Por que dois pesos, duas medidas?

Outra coisa que não faz sentido, sob a argumentação de justificar a proibição em função dos danos materiais, é que os danos causados ao patrimônio público (salvo a derrubada do poste na festa do CA de direito), segundo os relatórios, de imparcialidade e confiabilidade altamente suspeita, foram causados por indivíduos (e não pelas festas) que poderiam perfeitamente ter causado os mesmos danos andando na UnB durante o horário letivo e sem a realização de nenhuma festa. Mas nesse caso, a reitoria, seguramente, não faria esse estardalhaço e não proibiria a circulação de pessoas pelo minhocão.

O que a reitoria propõe para “resolver” a questão é algo tão absurdo como um dirigente de futebol que propusesse o fim dos campeonatos de futebol no Brasil, pelo fato de acontecerem vez ou outra, nos estádios, brigas entre torcedores.

Na tentativa de fazer valer a sua posição proibitória sobre as festas, Zé Geraldo tomou duas atitudes essenciais. A primeira foi chamar uma reunião com os chefes de departamento para apresentar a sua posição e anunciar que pretende punir os CA’s e os indivíduos que realizarem festas no minhocão. Entre as punições constam a perda do direito do CA de requerer ônibus ou auxílio para a participação de atividades externas a UnB e a abertura de processos administrativos contra os responsáveis pelas festas, processos esses, que podem até mesmo pedir a expulsão do estudante da UnB.

A gravidade dessas medidas é que, na prática, elas abrem uma brecha para perseguir ativistas e entidades que estejam incomodando a reitoria. Por exemplo: num curso como letras em que existem quase 2500 estudantes, não seria incomum que um grupo de 50 a 60 estudantes, de forma arbitrária e não articulada, estivessem presentes no CALET ao mesmo tempo, conversando e ouvindo música. O que impede a reitoria de considerar isso uma festa não autorizada e desencadear uma série de represálias contra o CA e os seus ativistas? O que está em jogo não são somente as festas, mas a própria autonomia e liberdade de organização dos CA’s sobre suas atividades e sobre o seu espaço físico. Essa medida absolutamente antidemocrática, autoritária é um duro ataque a liberdade de organização do movimento estudantil e deve receber uma resposta firme e à altura do movimento estudantil da UnB, em defesa de sua liberdade de organização. É fundamental que nesse momento os fóruns do movimento estudantil sejam convocados o CEB e se possível a assembleia, para discutirmos a questão e organizar uma festa unificada de todos os cursos e CA’s no minhocão e nos prédios da UnB para dizer em alto e bom som ao reitor Zé Geraldo que é proibido proibir.



Eduardo Zanata

Estudante de letras da UnB, oposição ao DCE

Membro da direção regional do PSTU-DF

segunda-feira, 4 de julho de 2011

PT e Agnelo: a Benedito Domingos, impunidade; aos trabalhadores da saúde em greve, repressão!

Eduardo Zanata, da direção do PSTU-DF

A última semana do mês de junho de 2011 selou, de forma significativa, o modelo de governança do PT no DF. Ao mesmo tempo em que deputados distritais da base aliada do governo Agnelo, entre eles Chico Vigilante (PT), enterraram o processo de cassação de Benedito Domingo, acusado de inúmeras fraudes de processos licitatórios em várias regiões administrativas do DF e citado por Durval Barbosa nos esquemas de corrupção da caixa de pandora, o governo Agnelo desencadeou uma campanha feroz de criminalização e desmoralização dos trabalhadores da secretaria de saúde. O governo Agnelo utilizou de verbas públicas para veicular nas rádios e TV's uma carta, em que descarregava a culpa pelo caos na saúde nos trabalhadores em greve, entre outras medidas como o corte de ponto dos grevistas e o pedido judicial de ilegalidade da paralisação.

A opção que o PT fez, ao garantir a impunidade de Benedito Domingos e reprimir os trabalhadores da secretaria de saúde, não é condizente com as opções de um governo dos trabalhadores. Mas, infelizmente não é novidade para os trabalhadores que os governos do PT optem por governar para os setores burgueses mais reacionários e corruptos do país e ataquem os trabalhadores. Nos governos de Dilma e Lula, figuras como Jader Barbalho, Sarney, Collor, entre outros sempre estiveram na lista dos fieis aliados. No entanto, a reforma da previdência, a proposta de congelamento salarial dos servidores públicos, a privatização dos aeroportos foram algumas das inúmeras ações que os governos de Dilma e Lula aplicaram e estão aplicando contra os trabalhadores.


É muito importante que os trabalhadores da secretaria de saúde sejam vitoriosos nessa greve, pois a luta desses companheiros é a luta por uma saúde pública de qualidade, que só pode ser concretizada se todos os profissionais dessa área estiverem devidamente valorizados e atuando em locais com condições dignas de atendimento.

Os trabalhadores não devem manter nenhuma confiança nos governos do PT e de Agnelo, somente a mobilização e organização independente dos governos podem garantir vitórias aos trabalhadores. Chamamos toda a população a se solidarizar a luta dos trabalhadores da secretaria de saúde do DF, que enfrentam um brutal processo de repressão do governo Agnelo. Enquanto o PT se dedica a salvar o pescoço dos rorizistas, a saúde pública do DF sofre com a falta de investimentos, de profissionais e de condições dignas de trabalho e de atendimento ao público.

O que a grande mídia realmente quer nos fazer pensar da UnB?

Há uma grande ofensiva da mídia para convencer a sociedade de que a UnB é um espaço dominado por festas, drogas, libertinagem, politização excessiva, liberdade excessiva, greves recorrentes, etc.


Mas são estes nossos problemas reais? São estes os problemas reais da UnB? Por que devemos ver o mundo sob a ótica e a pauta da grande mídia?

Sabemos que Veja, Correio Braziliense, Organizações Globo e outras instituições similares buscam pautar o debate público na sociedade e tem as condições materiais para isso. São organizações do grande capital que defendem os interesses materiais e as concepções de mundo que interessam a reprodução do grande capital. Ao grande capital interessa destruir a Universidade Pública para tornar a educação e o conhecimento uma mercadoria cuja oferta deve estar sob seu controle e a seu serviço. Ao grande capital interessa destruir este oásis de liberdade que é a universidade pública num mundo dominado pelo despotismo do capital. Mais do que isso, trata-se de criminalizar, ou ao menos aviltar todas as atividades humanas que não contribuam, objetiva e subjetivamente, para a reprodução do capital e de seus interesses particulares como pilar da vida social. No caso particular de que aqui tratamos, trata-se de cristalizar no imaginário popular a ideia de que a Universidade é um espaço dominado pela politização excessiva, pela liberdade excessiva, pelas greves recorrentes, pelas festas, pelo uso e pelo abuso de drogas, etc.

Mas estes não são os nossos problemas reais! Nossos problemas reais passam pela falência do sistema educacional no país; nossos problemas reais passam pelos salários de miséria que recebem os professores; nossos problemas reais passam pelas políticas humanicidas que transformam a escola num depósito de crianças; nossos problemas reais passam por uma população composta majoritariamente por analfabetos e analfabetos funcionais; nossos problemas reais passam pela precarização da universidade pública e do trabalho docente; nossos problemas reais passam por um orçamento público em que 40% do dinheiro de nossos impostos servem apenas para enriquecer com os juros mais altos do mundo alguns poucos endinheirados que se fartam em orgias sem fim bancadas pela miséria, pela fome, pela falência da saúde pública e por todos os dramas que, num mundo de abundância, cotidianamente assolam a vida da imensa maioria das pessoas.

Para ocultar nossos problemas reais, que são apenas nossos, e que por isso nada significam do ponto de vista do capital enquanto sua agenda e sua ordem social não estiverem em xeque por força de nossa própria ação, trata-se de buscar ocupar nosso imaginário com os problemas que lhes interessam que nos ocupemos. Enquanto assim o fizermos, os problemas por eles criados servem apenas para fazer com que briguemos entre nós - e enquanto brigamos entre nós, permanecemos separados uns dos outros - e enquanto permanecemos separados uns dos outros, distantes uns dos outros, e distantes de nossos problemas reais, eles impõem sua agenda a ferro e fogo, e fazem assim de nossa própria consciência a imagem e semelhança dos conceitos e dos preconceitos que nela são cotidianamente implantados pela ação corrosiva que a grande mídia exerce nossa inteligência, nossa consciência, nossa sensibilidade e nossa humanidade - ou o que ainda dela pode restar,...
E assim, num círculo infernal, não cessam de se agravar nossos problemas reais, até que por fim nos cansamos de tudo, nos demitimos do mundo, nos desiludimos de tudo e de todos e nos ocupamos apenas de nossos problemas particulares. Bingo! Era esta a ideia! Ao fim, adoecemos todos, deprimidos, dopados, cansados, exauridos de viver uma vida que não é a nossa, que não é a vida que nossa própria liberdade gostaria de construir para nós.

Assim caminha a humanidade, e assim caminhando, cava a sua própria cova.

Não, a agenda deles não é a nossa! Basta de nos portarmos como os ventríloquos inconscientes e involuntários de uma agenda perversa, de uma agenda que não é a nossa!

Um dia ainda diremos a eles, em alto e bom som, nossa última palavra:
Não somos máquinas, homens é o que somos!

Rodrigo Dantas*

*Rodrigo Dantas é professor do Departamento de Filosofia da UnB, militante do PSTU, foi candidato a Governador nas eleições de 2010.