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segunda-feira, 15 de outubro de 2012

12 anos sem Gildo Rocha


No último dia 06 de outubro completou doze anos do assassinato de militante do PSTU do Distrito Federal. Assassinos confessos de Gildo Rocha continuam impunes.

No dia 6 de outubro de 2000, o militante do PSTU e dirigente do Sindicato dos Servidores do Distrito Federal (Sindiser), Gildo da Silva Rocha, foi covardemente assassinado por policiais civis com um tiro pelas costas. O “crime” de Gildo foi organizar a greve dos trabalhadores do Serviço de Limpeza Urbana (SLU), na Ceilândia, cidade-satélite de Brasília. Num país em que o direito de greve é tratado com repressão, o crime do sindicalista foi punido com execução sumária por policiais da 15ª Delegacia da cidade.

O assassinato e a impunidade
Gildo foi morto na madrugada de 6 de outubro de 2000, durante atividade de greve contra a terceirização e por condições de trabalho. Naquele ano, o então governador Joaquim Roriz havia dado ordem de reprimir violentamente a greve dos trabalhadores da limpeza urbana (SLU), caso viesse a acontecer. Gildo Rocha, um dos líderes, saiu de casa de madrugada, no dia 6 de outubro, acompanhado de amigos, também do SLU, para uma atividade votada na assembléia: furar sacos de lixos para impedir a ação dos fura-greves. Dois policiais civis, armados e à paisana, abordaram o grupo, e na tentativa de fugir, 17 disparos foram efetivados contra o carro de Gildo. Dois tiros acertaram o porta-malas, oito ricochetearam e um atingiu Gildo nas costas.

Os policiais tentaram incriminar Gildo. Afirmaram que este estava em atividade suspeita e que teria disparado contra eles. Uma arma e drogas foram colocadas no carro, na tentativa de desqualificar a vítima. “Foi uma covardia muito grande isso. Demorou, mas dois meses depois, saiu o laudo mostrando que era tudo mentira”, lembra Gleicimar Souza, viúva de Gildo. O laudo do Instituto Médico Legal provou que Gildo não atirou, já que em sua mão não havia vestígios de pólvora. Um exame de sangue mostrou ainda que não havia consumido drogas.

Após passar por um processo administrativo, o policial voltou à atividade, inclusive recebendo novamente o porte de arma. A demora nos processos e a impunidade revelam de forma explícita o caráter da Justiça burguesa, sob a qual os trabalhadores são assassinados e nada ocorre. 

Em 2011, após 11 anos, os assassinos de Gildo Rocha tiveram um julgamento.O processo foi marcado pela lentidão. A ponto de um acusado já ter morrido, em acidente. O que mostra o papel da Justiça. “Para muitos, basta roubar uma galinha pra ser preso”, diz Gleicimar.

A companheira de Gildo perdeu a conta das idas ao Fórum, acompanhar o processo. “Eu ia lá tantas vezes e não entendia porquê da demora. Uma pessoa mata outra nessas condições, confessa... Ele tinha de ser julgado de imediato. Houve a morte, tinha a arma, o cara falou: ‘eu matei, eu fiz’”, lembra Gleicimar. “Tinha de ter um julgamento. Mas não foi o que aconteceu. Demorou dois anos para o Ministério Público fazer a pronúncia... Depois de uns cinco anos que o juiz mandou a júri popular”, protesta.

O primeiro julgamento só foi marcado dez anos após o crime, mas não foi realizado. Na ocasião, dezenas de policiais compareceram ao fórum, em uma tentativa de coação. O julgamento foi transferido de Ceilândia para Brasília, adiado e re-marcado para julho de 2011.

Um dos assassinos já morreu e o outro policial foi considerado ‘inocente’ pelo júri, mesmo com sua comprovada participação na morte do sindicalista. Embora o réu fosse o policial, quem na prática estava sendo julgado pelo tribunal era Gildo Rocha, qualificado a todo momento de ‘bandido’ pela defesa. 

O advogado insistiu na tese de que o sindicalista estava armado e que teria atirado contra os policiais, além de portar drogas na ocasião em que foi abordado. Vários laudos realizados na época, porém, atestaram que não havia qualquer vestígio de drogas no corpo de Gildo, assim como a inexistência de pólvora nas mãos do ativista desmentiram a versão dos policiais. Perícias, assim como a cena do crime, foram comprovadamente manipuladas pelos autores do assassinato. 

Toda a estratégia da defesa, porém, se baseou na desqualificação de Gildo. “Por que ele fugiu?”, foi a pergunta mais repetida. Ninguém se lembrou, por exemplo, de que em 1999, apenas um ano antes do ocorrido, a polícia de Brasília havia investido contra uma assembleia de trabalhadores da Novacap, empresa estatal, deixando um morto e vários feridos. “Desde o início, a polícia não investigou os seus homens, partiu do princípio que a versão da polícia é a verdadeira e toda a investigação foi contra a vítima. Nenhuma investigação contra os policiais”, respondeu a promotoria. 

A acusação, por outro lado, não rebateu a desqualificação promovida pela defesa do advogado e, talvez temerosa de se opor à polícia, sequer confrontou o linchamento moral contra Gildo com os laudos técnicos. A linha da procuradoria foi que ‘mesmo se Gildo estivesse armado, a polícia não tinha o direito de ter feito o que fez’. Tanto a procuradoria quanto a defesa, desta forma, passaram uma imagem de Gildo Rocha como alguém que estava fazendo alguma coisa ‘errada’, justificando a ação dos policiais e a sua própria morte. Foi uma espécie de segunda punição ao sindicalista. 

Primeiro, o próprio assassinato frio pelas costas. E agora, a tentativa de linchamento moral de sua memória. Chocada com o resultado do julgamento, a viúva de Gildo, Gleicimar Souza Rocha só pôde dizer: ‘tantos anos de espera para nada’. Além da esposa, Gildo deixou dois filhos, pequenos na época em que foi morto. Mais um revoltante capítulo nessa história de impunidade que já dura 11 anos. 

Companheiro Gildo, presente! Em defesa de sua memória, por Justiça 

Ao contrário da imagem passada no tribunal, Gildo Rocha era um reconhecido dirigente sindical e militante socialista, dedicado à luta por um mundo melhor. Foi assassinado pela polícia do então governador Joaquim Roriz por estar participando de uma atividade de greve, sendo mais uma das vítimas do processo de criminalização dos movimentos sociais empreendido pelo Estado. 

O lamentável julgamento mostrou como que, para o Estado, sindicalista, mesmo vítima, é considerado ‘bandido’. Gildo Rocha é um dos mártires da luta pelo socialismo e sua memória será sempre recordada com orgulho pelos militantes do PSTU. E a busca por Justiça, por sua vez, não termina aqui.

A decisão da Justiça não pôde amenizar a dor de sua mulher, seus filhos e companheiros. Porém, Gildo morreu na luta por um mundo melhor e mais justo. Continua presente nas lutas dos militantes do PSTU e dá força para combater as injustiças, a criminalização dos movimentos sociais e poderosos como Roriz.

Um comentário:

  1. Olá, companheiros!

    Colocamos o blog de vocês numa lista do nosso blog: http://pstulimoeiro.blogspot.com.br/ (ver página BLOGS do PSTU). Se possível, divulguem o nosso blog no blog de vocês! Agradecemos pelo apoio!

    Forte abraço!

    PSTU de Limoeiro do Norte-CE

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