![]() Ana Rodríguez, Leo Arantes y Víctor Quiroga, da UST (Venezuela) |
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Presidente sofreu importante desgaste em setores dos trabalhadores |

O que aconteceu na eleição?
Chávez venceu as eleições com 55,25% (8.136.964) dos votos em uma
eleição com pouca abstenção: votaram mais de 80% do eleitorado. O número
de votos do partido do governo não é pouca coisa quando você considera
os 14 anos do chavismo no poder.
Porém, é importante notar que a oposição burguesa liderada por Capriles
conseguiu um salto significativo para obter mais de 6 milhões de votos,
dois milhões a mais do que na eleição passada (um crescimento de 50%).
O resto dos candidatos dividiu um número muito pequeno de votos, quase
80 mil, mostrando a grande polarização entre os dois principais
candidatos. Neste quadro, a candidatura de Orlando Chirino, a única que
apresentava independência de classe, conquistou 4.103 votos.
A ruptura com Chávez
Mas os números e o triunfo de Chávez não podem nos confundir. As
eleições se realizaram em um cenário prévio de luta, manifestações e
protestos com reivindicações de salários, serviços (especialmente água,
eletricidade e infraestrutura), acordos coletivos e uma longa lista de
reivindicações. Muitas delas apresentavam antigas reivindicações e
continuam depois das eleições, pois falta resposta a elas.
A perseguição dos líderes sindicais que impulsionavam essas lutas, ou
simplesmente não se encaixam no partido de Chávez (como é o caso de
Rubén González, que foi preso por mais de um ano e agora será julgado
por liderar um protesto em 2009), a burocratização das organizações dos
trabalhadores e a corrupção, produziram rupturas de setores importantes
com Chávez. Isso explica o crescimento eleitoral de Capriles. Seus votos
vêm principalmente da classe média, mas também de um setor importante
dos trabalhadores do petróleo, que desempenhou um papel heróico contra a
sabotagem petroleira (lockout) de 2003; os trabalhadores que lutaram
pela nacionalização e controle da Sidor (Siderúrgica de Orinoco,
nacionalizada em 2008); e da empresa da Corporación Venezolana de
Guayana; e dos professores e trabalhadores da educação.
Esses trabalhadores não querem deixar para trás toda a sua luta. Tem
expectativas em Chávez e seu governo e querem resolver seus problemas.
Muitos escolheram, de maneira confusa, a opção por "punir a
insensibilidade do governo e da burocracia." Tal sentimento foi usado
por Capriles que tentou passar uma imagem de "progressista" e
“democrático”. O candidato chegou a dizer que tem simpatia por Lula e
disse que vai manter as políticas sociais de Chávez, porém com "mais
eficácia e livre da corrupção".
Mas ... e os 8 milhões de votos?
Chávez conquistou uma grande quantidade de votos. Alguns desses votos
vêm dos setores populares que, de alguma forma, se beneficiaram com as
"missões" (programas que subsidiam a habitação, educação, saúde,
alimentação etc., financiado com a alta dos preços internacionais do
petróleo) e também um setor importante da classe trabalhadora. Não pode
se desprezar também o voto das Forças Armadas Bolivarianas, que ocupa
posições de poder dentro do aparelho do Estado, incluindo o Ministério
da Defesa no comando do general Rangel Silva, entre vários militares
lideranças dos governos "democráticos e socialistas".
Mas essa grande votação não expressa um entusiasmo ou um cheque em
branco para o presidente. Há grande desconfiança e rejeição. Tanto é
assim que, nas semanas finais da campanha "desapareceram" dos comícios
todos os ministros, governadores e burocratas que adornavam os discursos
de Hugo Chávez. Foram substituídos por músicos jovens e estudantes. Na
hora de votar, muitos tiveram medo de algum "pacote neoliberal secreto
como os aplicados na Europa", uma agitação que marcou a campanha de
Chávez.
Na campanha, Chávez não se cansou de perguntar: "vocês acham que a
direita vai manter construção de casas e as missões? Vai eliminá-las!",
"Você vai permitir que eles acabem com nossas conquistas?" "Não! Não é
certo?", agitava em seus discursos.
Milhares de trabalhadores do Estado, muitos deles terceirizados, não
arriscaram pôr em perigo a estabilidade já precária de seus empregos.
Assim, pensando que o pior estava por vir, (e apesar da raiva contra a
burocracia e a corrupção do PSUV - Partido Socialista Unido da
Venezuela) e na ausência de uma alternativa visível, optaram por votar
em Chávez, para evitar o “ajuste neoliberal ".
"Obama votaria em Chávez"
Mas o discurso de Chávez também se dirigiu à burguesia. Em entrevista a Telesur, ele disse: "Minha
vitória convém a eles, disse aos proprietários das grandes redes de
televisão, os donos das grandes empresas privadas, que convém a toda a
burguesia porque Chávez aqui garante paz, a tranquilidade e o
desenvolvimento do país . Eu sou a garantia de que eles continuem a
ganhar dinheiro. Sou a garanta de estabilidade”
Também chamou os empresários a realizarem “bons negócios” associado às
empresas imperialistas com as empresas do Mercosul. Para garantir que os
empregadores não deveriam ter medo, Chávez soltou: "Se Obama vivesse em Caracas, Chávez votaria em Obama. É um cara bom" (Telesur)
Nos últimos dias da campanha, Chávez apontou para o “diálogo” e deslizou
até com a possibilidade de uma anistia para os golpistas, como Pedro
Carmona, empresário golpista exilado em Miami, "dentro da Constituição".
(Entrevista com TeleVen em 4/10/2012).
O processo revolucionário venezuelano, aberto nos primeiros anos do
século, não foi derrotado. Para além dos refluxos momentâneos, ele ainda
segue vivo. E as lutas vão se incrementando diante o fracasso do
programa democrático burguês de Chávez para dar resposta aos problemas
operários. Chávez se apresenta até agora como uma garantia de contenção,
uma barreira que desvia as lutas.
Este permanente chamado à burguesia, à oposição a dialogar, ao mesmo
tempo em que afirma que foi o responsável por tirar o país da beira do
abismo, só pode ser entendido no marco da crise econômica mundial, que
já se fez sentir em 2008 e que se aproxima novamente da Venezuela
Quem pagará pela crise caso Chávez convoque uma “unidade nacional” com
os patrões para que garantam seus bons negócios? Como já denunciamos em
2008, o aumento do IVA, a desvalorização cambial e a inflação (medidas
adotadas pelo governo diante da crise) fizeram que os prejuízos dos
patrões fossem jogados nas costas dos trabalhadores!
Votação de Chirino
A votação a Orlando Chirino foi baixa, ainda que significativa, apesar
da polarização. Os esforços da cada partido em apresentar uma
candidatura classista como alternativa não atingiram os milhares de
colegas que não encontraram um ponto de referência.
Nós da Unidade Socialista dos Trabalhadores impulsionamos a candidatura
de Chirino, entre os trabalhadores fabris, estatais, estudantes e
setores de vanguarda do movimento operário.
No entanto, a baixa votação de Chirino não se chocou com a polarização.
Em nossa opinião, também jogou contra a campanha o fato de que não se
tenha formado uma frente de todas as personalidades e partidos que deram
apoio a Chirino. Essa possibilidade existiu e o PSL, que poderia ter
convocado e concretizado esse frente, não a fez, apesar da
pré-disposição da UST e de Opção Operária. Isso foi um erro, ainda que a
frente não tivesse rompido a polarização, mas poderia ter sido
apresentada com maiores possibilidades, como um ponto de referência para
esses milhares de desiludidos com Chávez. Esperamos que isso sirva como
experiência.
As tarefas por diante
Constatada a importante ruptura com o chavismo, abre-se a possibilidade
de lutar por uma fatia dos lutadores e ativistas que começaram a buscar
uma alternativa. Por isso, devemos participar e impulsionar as lutas que
estão se dando e aquelas que inevitavelmente virão. Junto com isso,
começam a surgir novos sindicatos que precisamos ajudar a consolidar
para que possam serem reconhecidos.
É tarefa fundamental a construção de uma ferramenta política
revolucionária, implantada na classe operária e setores populares. Em
dezembro serão realizadas as eleições regionais para governadores e
deputados. É uma oportunidade para chegar a todos aqueles que buscam uma
alternativa ao chavismo e seus burocratas. A UST chama todos para essa
luta. Vamos participar das eleições com candidatos nas cédulas do PSL
com o objetivo de defender o programa de independência de classe e
construir a ferramenta revolucionária dos trabalhadores.
Esclarecendo confusões
Os revolucionários aproveitam a intervenção nas campanhas eleitorais
para fazer propaganda do programa operário e socialista. Os espaços na
imprensa burguesa são escassos, por isso devemos ser muito cuidadosos na
hora de fazer declarações. No jornal Universal (27/9/2012), em uma
reportagem, Orlando Chirino expressou corretamente que chegou a hora dos
trabalhadores governarem. Mas quando explicou quais seriam as medidas
que tomaria esse governo, Chirino gerou uma grande confusão ao afirmar
que “quanto ao aparelho produtivo há que se sentar com os
investidores para fixar regras claras e recuperar as instituições para
atrair investimentos. Isso passa por melhorar o salário e discutir um
plano geral para garantir emprego estável e de qualidade e segurança
social.”
Quando se referiu às expropriações de Chávez disse: “Tudo o que está
fora da lei se revisará. Terá que se escutar todos os envolvidos, donos,
comunidades e sindicatos. Não temos problemas com isso. Nosso governo
garante a plena liberdade sindical e à iniciativa privada”.
Nada do que foi dito está no programa apresentado pelo PSL que apoiamos.
Não vemos porque seria necessário sentar-se com os investidores… para
atrair investimentos, quando o principal setor da economia que os
investidores estão de olho é o petróleo que propomos nacionalizar
totalmente. Também não entendemos a razão de se revisar as expropriações
com os “donos” (as multinacionais também?), nem porque garantir “a
iniciativa privada”. Essas confusões, que devem ser esclarecidas,
dificultam o diálogo com os lutadores, sobretudo com os das empresas
expropriadas para que possam compreender o programa revolucionário.
http://pstu.org.br/internacional_materia.asp?id=14616&ida=0
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