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domingo, 4 de julho de 2010

Entrevista com Professor Rodrigo Dantas – Candidato a Governador pelo PSTU

Entrevista concedida ao jornal Campus Online – jornal laboratório dos estudantes de Comunicação da UnB


 

  • O senhor já foi candidato a senador federal, agora a governador.


 

  • O senhor sente uma responsabilidade maior dessa vez?


 

Sim. Trata-se de defender o programa socialista diante de toda a população da capital do país.


 

  • Como foi o processo para sua indicação?


 

Após debater, o PSTU decidiu por unanimidade pela chapa que apresentaremos nestas eleições.


 

  • O senhor se coloca como um real candidato ou um anticandidato ao governo do Distrito Federal?


     

    • Não sou anti-candidato. Com o pouco espaço de mídia que teremos, imposto pela polarização entre as duas candidaturas que a burguesia desta cidade já autorizou a que continuem a governar em seu nome, defenderemos que os que produzem toda a riqueza – os trabalhadores, que são a imensa maioria – possam governar, sem aliança com os patrões.


 

  • O PSTU não se coligou com nenhum partido.


     

    • Como o senhor enxerga isso?
    • Nosso objetivo não é ocupar espaços de poder na estrutura corrupta e corruptora do Estado burguês. Não fazemos coligações sem princípios com o objetivo de chegar ao poder, e lá instalado, lotear cargos, recursos e favores de todo tipo para montar uma base de apoio como quem monta um balcão de negócios.
    • Horário eleitoral gratuito, o pouco tempo de exposição para apresentar suas propostas não é um problema?
    • Evidentemente. Vivemos numa sociedade baseada em relações de força, poder, dominação e exploração, em que a desigualdade é a regra. Como tudo o mais, a lei eleitoral é feita para conservar e reproduzir a desigualdade, zelando pelos poderes e privilégios de uma minoria que enriquece pela exploração do trabalho alheio.
    • Por que a coligação Frente de Esquerda (PSTU, PCB e PSOL) não se repetiu nestas eleições?
    • O PSTU fez um chamado à Frente de Esquerda em 2009, com base num programa socialista, sem alianças com partidos burgueses e sem financiamento privado. Não houve acordo. O PSOL, após ver frustrado seu projeto eleitoral de aliar-se à candidatura burguesa de Marina, aprovou programa semelhante ao defendido pelo PT em sua trajetória rumo ao poder.
    • Em 2006 essa frente teve 4,25% dos votos válidos com Toninho para governador e o senhor recebeu 10.974 votos (0,89% dos votos válidos), como o senhor espera ampliar o seu eleitorado?
    • Diante da polarização que se pretende impor entre Roriz e PT/PMDB, e da maior crise de corrupção da história do DF, penso que as pessoas podem estar buscando alternativas que sejam capazes de virar esta página podre de nossa história.
    • Como romper a polarização entre Roriz e PT?
    • Com Roriz ou com Agnelo/Filipelli, os mesmos que governaram o DF nos últimos 20 anos seguirão no poder. O resultado veio à tona com a operação Caixa de Pandora. Cabe à população decidir se continuará a ser governada pelos mesmos interesses e métodos, ou se chegou a hora de votar para que os trabalhadores governem.


 

  • Recentemente o senhor liderou, num ato violento, conjuntamente com alunos da UnB, a invasão da Câmara Legislativa. O eleitor espera esse tipo de atitude do seu governante? O político não deve resolver os conflitos pelo diálogo em vez de usar a força? A ocupação da Câmara Legislativa e a luta protagonizada pelo movimento Fora Arruda-PO e toda a máfia contaram com amplo apoio popular. Ocupações são métodos de luta de que os trabalhadores e a juventude lançam mão quando não há espaço para o diálogo – e costumam ser bem sucedidas quando tem apoio popular.
  • Como seria sua relação com a Câmara Legislativa num eventual governo? É possível governar sem alianças? Se a população votar em massa nos candidatos do PSTU, isso significa que é chegada a hora de que os trabalhadores organizados governem por si e para si mesmos, sem alianças com a burguesia e seus representantes políticos.


 

  • Como o senhor pretende, se eleito, recuperar a credibilidade dos brasilienses em relação à política do DF? Da forma como o regime político está estruturado, as grandes empresas, com apoio dos meios de comunicação, financiam e elegem seus candidatos para que eles defendam seus interesses. O resultado é a corrupção institucionalizada. Uma nova política só pode surgir do processo de organização consciente dos trabalhadores e da juventude.


 

  • Como o senhor vai acabar com a corrupção no DF? Prisão, cassação, exoneração e expropriação dos bens de todos os corruptos e corruptores. Ampla auditoria e fiscalização popular de todas as contas, contratos, convênios, obras, atos e estruturas do GDF.


 

  • Qual o principal ponto da sua plataforma eleitoral? Como pretende implementá-lo? Nenhum centavo a mais do Estado para enriquecer empresários e políticos-empresários corruptos. Cada centavo de nossos impostos será aplicado em saúde, educação, transporte, moradia, saneamento, salários, emprego, arte, cultura, lazer e todos os direitos e necessidades da classe trabalhadora e da juventude.


 

  • O senhor fala em conselhos comunitários.


 

  • O que são? São organismos do poder popular, eleitos nos bairros e comunidades, que decidirão onde e como aplicar os recursos públicos para atender as necessidades da população e fiscalizarão sua aplicação.
  • De maneira prática, como eles funcionariam e como seriam implementados? Funcionariam como funcionam as assembléias da classe trabalhadora e da juventude e elegeriam secretarias executivas para implementar suas decisões.
  • Eles acarretariam numa diluição do poder do Estado? O Estado existe como um poder separado e acima da sociedade.
    Os conselhos populares são organismos que fazem parte da história de luta da classe trabalhadora e seu objetivo é construir uma estrutura de poder que emane diretamente do seio da classe trabalhadora.


 

  • O senhor é um defensor da greve como instrumento de luta dos trabalhadores.


 

  • Como o senhor lidaria com uma greve num eventual governo? Uma das primeiras medidas de nosso governo seria aumentar os salários dos servidores e fazer com que o piso seja o salário mínimo do DIEESE (R$ 2.140,00). Nosso objetivo é governar com os trabalhadores e para os trabalhadores.
  • Qual a diferença entre incentivar a greve e estar do outro lado como governo, tendo de controlá-la? Nosso governo apoiará ativamente todas as greves e todas as lutas da classe trabalhadora. Se ainda assim tivermos de lidar com alguma greve na condição de governo, tomaremos todas as medidas para que as reivindicações dos trabalhadores sejam atendidas.


 

  • Em entrevista ao Cacom, em 13 de setembro de 2006, o senhor disse que sua candidatura ao senado se deveu a pedidos dos seus companheiros de partido (PSOL), isso é verdade? Na atual eleição, você se candidatou novamente a pedidos? Num partido socialista as candidaturas não nascem de desejos e ambições pessoais. Qualquer candidatura do PSTU nasce de uma decisão democrática tomada pelo partido, e cabe ao militante a que foi designada esta tarefa cumpri-la da melhor forma.


 

  • Na mesma entrevista, o senhor afirmou, "Eu me sinto pouco à vontade na condição de candidato porque eu detesto ser confundido com político, me dá uma náusea profunda". Isso não é uma contradição com a sua postura em concorrer a cargos como senador e, agora , a governador do Distrito Federal? De fato, é desagradável ser confundido com a figua do político profissional, que no imaginário popular geralmente é representado como a figura do ladrão de terno e gravata. Sou um professor de filosofia e um militante socialista – e não um político profissional sedento por dinheiro e poder.


     

  • Ainda nessa entrevista, o senhor chegou a afirmar que desistiu do curso de Comunicação Social porque
    "Como jornalista, seria um escravo da propriedade privada dos meios de comunicação. Preferi a liberdade de ser professor". Ser político oferece liberdade? Como professor e militante socialista, prezo a liberdade acima de tudo e dedico minha vida à luta pela liberdade. Não a liberdade que se baseia no poder de poucos para impor seus privilégios sobre a grande maioria, mas a liberdade que se constrói a partir do reconhecimento do direito à vida e à necessária igualdade entre todos.


 

  • Você é um dos fundadores do PSOL. Por que mudou para um partido de menor expressão? O PSOL tem expressão eleitoral maior que o PSTU. Mas o PSTU é um partido mais enraizado nas organizações dos trabalhadores – o que ficou evidente no Congressso da Classe Trabalhadora, em que houve maioria de dois terços votando nas posições defendidas pelo PSTU. Isso levou a que correntes do PSOL se retirassem do Congresso. Esperamos que reconsiderem esta atitude e se reincorporem à nova central sindical, popular e estudantil que estamos construindo.


 

  • Sua candidatura a governador dá publicidade ao seu nome. Você tem interesse em ser reitor da UnB, no futuro? Ser reitor impõe uma série de limitações e constrangimentos jurídicos, políticos e econômicos. Só aceitaria um cargo como esse num contexto em que a universidade e a sociedade estivessem protagonizando grandes processos revolucionários de transformações estruturais na vida social.


 

  • Segundo o senhor, o PT e o PSOL se corromperam. O poder corrompe? O PSTU não pode também eventualmente ser corrompido pelo poder? Não penso que o PSOL tenha se corrompido, mas que seu programa, suas práticas e sua forma organizativa, centradas no processo eleitoral, são muito semelhantes às do PT e devem conduzir este partido a uma trajetória de adaptação à sociedade que pretendem transformar. O PSTU não é um partido eleitoral, mas uma organização internacional de socialistas que atua nas lutas e organizações da classe trabalhadora e tem como objetivo criar as condições para a revolução socialista.

7 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Talvez seja interessante colocar aqui o link pra matéria original do Campus Online, já que esta foi muito editada em relação ao que foi realmente publicado.

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  3. Editar tanto uma entrevista assim... Que absurdo!!! Deste jeito parece que o veículo que publicou a entrevista tomou total partido do candidato e não foi bem assim!
    Querem publicar partes de uma entrevista do Campus Online tudo bem... Mas deixem bem claro que houve edição e deem o link para a entrevista verdadeira!!!

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  4. Esta é a entrevista original - e me parece razoável que toda entrevista deva ser publicada tal como foi concedida. Quem editou a entrevista foi o Campus.

    Rodrigo Dantas

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  5. Tenha fé, Rodrigo Dantas! Boa Sorte!

    Bouvoar

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  6. Bom dia!
    Conheci o Rodrigo Dantas em entrevista a uma emissora de tv, que não me recordo agora. Ele falava pela Adunb (sic). Achei-o fascinante. Por isso votei nele para o senado, quando veio pelo PSOL e não me arrependo. Acabo de ler esta entrevista que também é muito atraente. Infelizmente a sociedade ainda não digeriu o socialismo. Com o fim do socialismo real, ficou o exemplo de que aquilo não funciona. Ficou para gente uma tarefa muita árdua, contra um capitalismo fuzilante, que o socialismo é liberdade, romantismo, inteligência, povo do poder... Se o Roriz tiver como ser eleito votarei no Agnelo (Roriz é um desastre ainda maior), embora tenhámos o Fillipele. Roriz fora VOTAREI em você Rodrigo Dantas. É isso!
    Emmanuel : emmanuelrego@gmail.com

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  7. Boa tarde, professor Rodrigo.
    Conheci você no aniversario da Isabela...
    Venho sempre aqui me informar sobre suas ideias e sobre o que anda acontecendo em sua campanha. Aproveitando... Meu voto é seu.

    Boa sorte!

    Patriceneiva@gmail.com

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