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segunda-feira, 4 de julho de 2011

O que a grande mídia realmente quer nos fazer pensar da UnB?

Há uma grande ofensiva da mídia para convencer a sociedade de que a UnB é um espaço dominado por festas, drogas, libertinagem, politização excessiva, liberdade excessiva, greves recorrentes, etc.


Mas são estes nossos problemas reais? São estes os problemas reais da UnB? Por que devemos ver o mundo sob a ótica e a pauta da grande mídia?

Sabemos que Veja, Correio Braziliense, Organizações Globo e outras instituições similares buscam pautar o debate público na sociedade e tem as condições materiais para isso. São organizações do grande capital que defendem os interesses materiais e as concepções de mundo que interessam a reprodução do grande capital. Ao grande capital interessa destruir a Universidade Pública para tornar a educação e o conhecimento uma mercadoria cuja oferta deve estar sob seu controle e a seu serviço. Ao grande capital interessa destruir este oásis de liberdade que é a universidade pública num mundo dominado pelo despotismo do capital. Mais do que isso, trata-se de criminalizar, ou ao menos aviltar todas as atividades humanas que não contribuam, objetiva e subjetivamente, para a reprodução do capital e de seus interesses particulares como pilar da vida social. No caso particular de que aqui tratamos, trata-se de cristalizar no imaginário popular a ideia de que a Universidade é um espaço dominado pela politização excessiva, pela liberdade excessiva, pelas greves recorrentes, pelas festas, pelo uso e pelo abuso de drogas, etc.

Mas estes não são os nossos problemas reais! Nossos problemas reais passam pela falência do sistema educacional no país; nossos problemas reais passam pelos salários de miséria que recebem os professores; nossos problemas reais passam pelas políticas humanicidas que transformam a escola num depósito de crianças; nossos problemas reais passam por uma população composta majoritariamente por analfabetos e analfabetos funcionais; nossos problemas reais passam pela precarização da universidade pública e do trabalho docente; nossos problemas reais passam por um orçamento público em que 40% do dinheiro de nossos impostos servem apenas para enriquecer com os juros mais altos do mundo alguns poucos endinheirados que se fartam em orgias sem fim bancadas pela miséria, pela fome, pela falência da saúde pública e por todos os dramas que, num mundo de abundância, cotidianamente assolam a vida da imensa maioria das pessoas.

Para ocultar nossos problemas reais, que são apenas nossos, e que por isso nada significam do ponto de vista do capital enquanto sua agenda e sua ordem social não estiverem em xeque por força de nossa própria ação, trata-se de buscar ocupar nosso imaginário com os problemas que lhes interessam que nos ocupemos. Enquanto assim o fizermos, os problemas por eles criados servem apenas para fazer com que briguemos entre nós - e enquanto brigamos entre nós, permanecemos separados uns dos outros - e enquanto permanecemos separados uns dos outros, distantes uns dos outros, e distantes de nossos problemas reais, eles impõem sua agenda a ferro e fogo, e fazem assim de nossa própria consciência a imagem e semelhança dos conceitos e dos preconceitos que nela são cotidianamente implantados pela ação corrosiva que a grande mídia exerce nossa inteligência, nossa consciência, nossa sensibilidade e nossa humanidade - ou o que ainda dela pode restar,...
E assim, num círculo infernal, não cessam de se agravar nossos problemas reais, até que por fim nos cansamos de tudo, nos demitimos do mundo, nos desiludimos de tudo e de todos e nos ocupamos apenas de nossos problemas particulares. Bingo! Era esta a ideia! Ao fim, adoecemos todos, deprimidos, dopados, cansados, exauridos de viver uma vida que não é a nossa, que não é a vida que nossa própria liberdade gostaria de construir para nós.

Assim caminha a humanidade, e assim caminhando, cava a sua própria cova.

Não, a agenda deles não é a nossa! Basta de nos portarmos como os ventríloquos inconscientes e involuntários de uma agenda perversa, de uma agenda que não é a nossa!

Um dia ainda diremos a eles, em alto e bom som, nossa última palavra:
Não somos máquinas, homens é o que somos!

Rodrigo Dantas*

*Rodrigo Dantas é professor do Departamento de Filosofia da UnB, militante do PSTU, foi candidato a Governador nas eleições de 2010.



4 comentários:

  1. A defesa sobre a acusação da politização excessiva não parece plausível, vindo de um professor da UnB que é militante de um partido político e publica o seu argumento no site do mesmo.

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  2. São meios de publicação e quantos mais melhor. Qual o excesso de politização de participar de um partido político? Acaso o (a) senhor(a)nunca corroborou com um partido, nunca exerceu o voto?

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  3. O que quis mostrar no comentário é que o autor é a personificação da acusação que ele rebate. Sinceramente partidos políticos sempre vão agir em torno de sí próprios, e grande parte da militância sempre abraçará unicamente a lógica de sobrevivência da sigla. Nunca corroborei com partido, e meu voto é sempre nulo, porque não aceito a opção menos pior para atuar politicamente. Abraço

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  4. Eu entendi que o objetivo do texto é mostrar que o problema da UnB não são as drogas e as atividades políticas, e sim a falta de verbas e de prioridade para a educação...

    Bom texto! A matéria da VEJA é muito bizarra!

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