]

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Servidor da UnB entra em greve de fome

http://www.correioweb.com.br/euestudante/noticias.php?id=13850

Os servidores técnico-administrativos da UnB completam, nesta quinta-feira (9/9), 178 dias em greve pelo pagamento integral dos salários. Em assembleia realizada nesta manhã, a categoria decidiu pela permanência da paralisação pela garantia do pagamento da URP (Unidade Referencial de Preços), taxa que representa 26,05% dos salários.

Como forma de garantir a decisão a favor dos servidores, o técnico-administrativo em química Marcelo Parise, 50 anos, do Instituto de Física da UnB, deu início a uma greve de fome. O servidor afirma que a última refeição realizada foi às 8h30 desta quinta-feira. “Só saio daqui para me alimentar se eu for derrotado ou tiver um problema de saúde”, disse. Marcelo Parise ainda afirmou durante assembleia da categoria que a ação é uma forma de “sensibilizar quem possa resolver o problema dos técnico-administrativos.”

Ele reforça que o principal motivo que o levou à greve de fome não foi somente o valor, mas "a injustiça da retirada de um direito garantido de forma legítima pela Justiça há 20 anos”. Marcelo defende que, assim como os professores, os técnicos também são servidores da educação e merecem ter o direito garantido.

Servidores da UnB e colegas de Marcelo no Instituto de Física farão revezamento no acampamento montado na Praça Chico Mendes da universidade. O físico Alexandre Neves, 32 anos, manifestou apoio. “Essa redução de 26% no nosso salário corresponde a seis dias, quatro horas e 47 minutos de trabalho. Imagine trabalhar seis dias, quatro horas e 47 minutos sem o direito de comer, de tomar banho, de tomar água, ou de levar os filhos ao colégio. É isso que estão fazendo com a gente”, diz.

O técnico de laboratório Leonardo Albuquerque, 29 anos, também incentiva e participa da manifestação. “Sabemos da possibilidade de não sairmos vitoriosos. Mas acreditamos que vale a pena lutar.” Manifestaram-se solidários a Marcelo funcionários da UnB, membros do Sindicato dos Trabalhadores da Fundação Universidade Brasília (Sintfub) e Federação dos Sindicatos dos Trabalhadores das Universidades Públicas Brasileiras (Fasubra).

Segundo Cosmo Balbino, coordenador-geral do Sintfub, a decisão de liberar ou não o pagamento dos 26,05% aos técnico-administrativos será definida pela ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal. Em 12 de maio, a ministra recebeu mandado de segurança preventivo com pedido de liminar que garante o direito dos servidores ao pagamento integral dos salários. Entretanto, não foi indicada uma data do despacho do processo.

Grevista

Pedro Murrieta, decano de administração e representante da reitoria, afirma que a instituição acredita na legitimidade da greve dos servidores e respeita a continuidade dela, assim como a da greve de fome de Parise. “A reitoria fica temerosa pela saúde do servidor mas não vai intervir no jejum”, afirma Pedro Murrieta,. Segundo ele, as equipes médicas e de segurança da universidade estarão à disposição para fornecer atendimento médico e de emergência, caso seja necessário.

O técnico-administrativo que adotou a greve de fome como protesto é servidor da UnB há 16 anos e, com o corte da URP, teve uma perda de mais de R$ 500 no orçamento familiar. De acordo com ele, já foram feitas várias manobras para poder adequar o orçamento às necessidades do dia a dia. “O pior é a injustiça que vem sendo cometida com a redução desses valor dos nossos salários.” Marcelo Parise está na Praça Chico Mendes da UnB. O servidor afirma que dormirá no local enquanto estiver em greve de fome. Durante a assembleia de hoje, o Comando de Greve indicou o total apoio a Marcelo Parise, decisão referendada pela categoria.


Saiba mais
20 anos de URP (unidade referencial de preços)

1987 - Decreto Lei Nº 2.335, de 1987 determina um reajuste salarial aos servidores públicos com base nos prejuízos causados pelos altos índices de inflação da época. Ainda em 1988, portaria do Ministério da Fazenda estabeleceu o valor da URP em 26,05% sobre os salários.

1989 - Primeira investida do Executivo contra a URP, antes mesmo de ela ser implementada: a Lei Federal Nº 7.730 suspendia a URP e os reajustes salariais. Os servidores da UnB entraram com diversas ações para manter os reajustes na Justiça do Trabalho, todas com êxito.

1991 - Com os ganhos na Justiça, o reitor da UnB na época, professor Antônio Ibañez, usou o princípio da autonomia, concedido às universidades federais ainda na Constituição de 1988, para estender o ganho salarial a todos os servidores da instituição.

No mesmo ano, o Ministério da Educação determinou a que a UnB suspendesse a extensão da URP para todos os servidores. Supremo Tribunal de Justiça, no entanto, acatou os mandados de segurança, mantendo a decisão de Ibañez. Em meados da década de 1990, a Advocacia-Geral da União (AGU) tenta derrubar a URP, sem êxito. O STF considerou, então, o caso julgado: não cabia mais recurso contra a autonomia da UnB em relação à URP. Mesmo assim, ainda hoje a UnB convive com essa instabilidade.


Nenhum comentário:

Postar um comentário